Vânia Frederico uma cidadã global

Uma cidadã global, amante do multiculturalismo, mulher de garra, de sentido forte e de  patriotismo, ama viver em Angola, contou ao Economia Rural sobre o seu percurso no mundo do empresariado, e a sua ideologia quanto a economia no mundo rural.

Vânia de Lourdes Frederico, natural de Luanda, nasceu em Malanje, no Quéssua, chegou a  Luanda no princípio de 1993.

Com  uma formação académica variada, a empresária fez os estudos primários e secundários em Angola, no ensino médio fez o curso de educação, no IMEN-Marista, após terminar o ensino médio, foi convidada a concorrer  a uma bolsa na United World Colleges onde chegou a ganhar, e foi para a Suazilândia (Eswatini) , em 2006 estando lá 2 anos, volta para a Angola, começa a trabalhar na empresa Development Workshop,  organização não governamental. Mas conta que também já tinha uma outra candidatura para os EUA, na Earlham College, bolsas essas que faziam parte do pacote de um filantropista americano  que investe na área de educação.

Vânia Frederico licenciou-se nos EUA, primeiro  em estudos internacionais, um curso mais abrangente, que tem haver com política, economia, cultura e diplomacia, e depois  em linguística e línguas comparadas, na  especialização em espanhol, francês e japonês.

De regresso a Angola, fez algumas pós-graduações, e em 2014 rumou para  Argentina, fazer formação em negócios internacionais.

Vânia conta que ficou longe da família  durante muitos anos, considerando este momento de viver longe dos seus , como sendo um verdadeiro aprendizado de vida, uma vez que  levou a conviver com pessoas diferentes, hábitos e culturas diversificadas.

“Eu me considero uma pessoa multicultural,porque faz parte de mim, aprendi a valorizar a diversidade, eu sou amante do multiculturalismo, e considero-me uma cidadã global, embora tenha um sentido forte de patriotismo, e tenha escolhido amar e viver em Angola”, afirmou .

Vânia Frederico é empresária, consultora empresarial, docente, investigadora e activista contra violência sexual, contou ao Economia Rural que entra para o ramo do empresariado de forma acidental, por força de amigos e colegas que na altura tinham decidido criar uma empresa.

Disse que entrou de cabeça e de coração , muito tarde para este mundo do empresariado, quando decidiu que era a forma de ganhar a sua liberdade financeira e económica.

“A pessoa que nos alimenta, que nos sustenta, nos controla.Tal como os países que podem ser financeiramente dependentes de outrém, não são soberanos, não são verdadeiramente livres”, afirmou.

Apesar de estar já a trabalhar como funcionária pública ,professora do ministério da Educação, na altura, e funcionária de uma empresa pública, as dificuldades do país, o desejo em ser livre financeiramente, a vontade de ver o país a crescer, e contribuir para o crescimento de sua pátria, gerando mais empregos, foram apontados pela a empresária, como sendo peças chaves que lhe motivaram a enveredar para o empresariado.

A ATO INTERNACIONAL é uma sociedade comercial anónima, onde é   administradora executiva.

Uma empresa de consultoria empresarial que se firma nos pilares do Planeamento, Estratégia, Gestão e Compliance.

A empresária defende a economia das comunidades, economia  solidária com muita convicção, considerando um sector que é marginalizado, visto que poderia porém  ser prestado mais atenção, pois considera ser um sector que contribui para a economia do país.

Nas vestes de investigadora, começou a estudar a economia solidária há um tempo, e “concluiu que já se vive a economia solidária no país, na economia informal, que é pouco sistematizada, e que pode ser uma solução, para ajudar os agentes a melhorarem os seus comércios, a melhorarem as suas vidas, e não olhar para ela de forma marginalizada, como um problema que tem que ser banido”, disse.

De acordo com a Empresária, é uma economia que se assenta na base da autogestão, da cooperação, nas relações sociais e da solidariedade.

A economia vai além das relações comerciais, mas sim das relações sociais.

Com esta visão sobre a economia solidária, a empresa que dirige, lançou no dia 04 de Julho deste ano o projeto EKUTA, que tem a duração de 5 anos, com o objetivo de  estabelecer uma rede de economia solidária, que é um  grupo de empreendimentos solidários, que sejam capazes de fazer trocas comerciais entre si, auto-ajudarem, auto-financiarem, por meio de criação  de fundos, para empréstimos entre os  agentes da economia solidária.

O projecto visa também, futuramente, ao longo dos 5 anos, dar oportunidade aos membros do EKUTA para além do crédito, pensarem em seguros, segurança social, de formas de potencializar os seus rendimentos.

“Pensa-se que as pessoas que estão na economia informal ganham menos, são pessoas marginalizadas, são mais vulneráveis, na verdade na economia informal há muito dinheiro”, realçou.

Vânia disse que vê na economia informal, muito potencial para alavancar a economia do país, nos estudos que já fez, traz  como exemplo  o mototaxista que trabalha com a mota de outrém, que pode tirar até no final do mês cumulativamente, entre 250 a 400 mil kwanzas.

Para uma quitandeira, exemplo de uma que vende legumes, pode facturar no mês mais de 150 mil kwanzas.

Outro estudo feito com um escalador de peixe na praia da mabunda,em Luanda, pode facturar acima de 160 mil kwanzas.

Vânia considera não haver  falta de dinheiro no mercado informal, “o dinheiro não é pouco , o problema é que essas pessoas da economia informal, precisam de formas de poderem poupar o seu dinheiro, formas de obterem microcréditos quando o dinheiro do negócio vai abaixo, ou quando acontece algo na família e perdem o dinheiro”, frisou.

Para a Vânia, o que deveria ser feito para a inclusão financeira dos cidadãos que lidam com a economia informal, as instituições financeiras, as instituições do Estado e as políticas direcionadas para a economia informal, devem ser projectadas no sentido  dos operadores informais se adaptarem às instituições  financeiras.

Continuou, “para os agentes económicos informais, o tempo é dinheiro, as pessoas não têm tempo de ficar em filas para depositar, levantar ou efectuar um outro processo nos bancos, nos operadores económicos informais o dinheiro apresenta uma grande circulação, eles têm a necessidade de alta liquides, dinheiro saí dinheiro entra, onde não têm mecanismo de poupar”.

“As nossas instituições financeiras não estão preparadas , não olham para se adaptar os agentes económicos na informalidade, há uma necessidade da inclusão financeira de certas formas de poupança, certas bancarização dos salários dos operadores económicos informais”, explicou.

Segundo a empresária, de acordo as suas  pesquisas, os operadores económicos informais têm dois problemas, a  alta liquides, muito dinheiro que entra, muito dinheiro que saí, não têm mecanismo de poupar, a inclusão financeira seria no sentido que estes fizessem poupanças , e acessem a pequenos créditos, mas só podem fazer poupanças a instituição financeiras, se estiverem cadastrados, logo tem que ser os Bancos a irem as ruas, as praças, doque os agentes irem atrás dos Bancos, de acordo a empresária.

Para Vânia, é necessário que haja instituições não bancárias , que sejam especializadas para estes agentes.

Quanto a questão que é a  economia solidária que o EKUTA defende, disse ter visto  na economia informal muitos princípios que existem na economia solidária, um modelo de economia que tem certos princípios, e faz com que os agentes  económicos, trabalhem em grupos de solidariedade de cooperação, de formas a manter os negócios sustentáveis.

“A economia solidária impulsiona o comércio solidário,o consumo solidário, a defesa da comunidade , a sustentabilidade ambiental, os preços justos , e sai questões que nem sempre a economia do mercado leva em conta”,defendeu.

Vânia Frederico, apresentou a kixikila como  umas das  formas de poupança solidária, muito  patente que tem ajudado muitas pessoas nesta comunidade a realizarem  grandes projetos, como construção de casas, onde  não  há taxas de  juros para os  empréstimos solidários.

“São estas questões como a  defesa da própria comunidade, a solidariedade, a poupança solidária, a cooperação , as finanças solidárias, que fazem parte da economia solidária, que é um modelo de economia que faz com que trabalhando juntos haja associativismo na sociedade.

Logo a economia solidária, é uma economia de consciência política dos deveres, do associativismo, que leva a maior condição de vida dos membros da comunidade”, afirmou.

Ao abordar sobre o agronegócio, a empresária considera como  o caminho, para a empresária, os angolanos devem lutar para a soberania econômica, para  auto-suficiência alimentar, e só atingirá essa auto suficiência alimentar através do agronegócio, que é o negócio do tempo, é o sector onde aconselhou as pessoas a investirem.

“Se o nosso chão dá tudo, por que  temos de comer de outras terras?”,questionou, fazendo menção a letra de uma música.

“Estamos numa situação difícil no país, numa economia cada vez mais pobre, o kwanza está a cada vez a desvalorizar, porque nós temos muita pressão sobre as divisas, sobre os dólares, não há divisas suficiente, aquilo que entra o Estado utiliza para pagar os serviços da dívida, os empréstimos, as taxas de  juros que tem com os parceiros internacionais, o Estado tem que honrar com os seus compromissos. Os nossos níveis de endividamentos são muito altos, e esse dinheiro não chega para tudo , não chega para importarmos, e a forma de limitarmos as importações é produzirmos no nosso próprio país”, esclareceu.

Para Vânia , o agronegócio é o negócio do século, é  o negócio do momento.

“A economia rural, é  o agronegócio, é a economia da comunidade, a economia informal, a economia da produção nacional, que também tem haver com as nossas relações sociais, e a economia solidária está de certa forma ligada a economia rural, visto que as acções da economia solidária ocorrem nas comunidades, nos bairros  e nas comunidades rurais”, finalizou.

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