Para suprir o tempo quando tudo estava parado por conta da COVID-19, Euclides Bange Paulo Dário, de 22 anos de idade, morador do bairro Dunga, na província do Uíge, viu-se obrigado a fazer alguma coisa para “matar” o tempo. Foi então que, por influência do seu amigo, tornou-se hoje, num técnico de acabamento de construção civil.
Segundo conta o jovem, tudo começou em 2020, por questão da pandemia da Covid-19 que assolou o mundo todo. Tudo estava parado, então decidiu, aos 18 anos na altura, procurar alguma coisa para fazer, no sentido de ocupar o tempo. Foi então que surgiu o convite do seu amigo e começou a trabalhar como ajudante de obras de construção civil, na área de acabamento, mesmo sem estar nos seus planos, hoje, Euclides confessa que se apaixonou pela arte, e já tem a sua própria equipa.
Comecei a trabalhar como ajudante de obras na área de acabamento e, sem estar nos planos, entrei e acabei de me apaixonar por isso. No decorrer do tempo, aperfeiçoei as minhas capacidades com cursos online. Não passei em uma escola de formação, foi tudo por trabalhar como ajudante e de adquirir mais conhecimentos através da internet.
Por outro lado, Bange revelou que também não sonhava ser contabilista. Viu o sonho de ser arquitecto frustrado, por conta da morosidade da instituição do qual fez os estudos do I ciclo no tratamento da documentação, e, como não bastasse, quando testou na escola de formação de arquitectos para o ensino médio, não teve sucesso. Foi chumbado. Para não perder o ano lectivo, foi, contra sua vontade, fazer o curso de Ciências Económicas e Jurídicas. O mesmo aconteceu quando tentou ingressar à universidade testando no curso de Direito, mas infelizmente, não havia sido admitido. Foi então que por influência de familiares e amigos próximos, convenceram-no a fazer o curso de Contabilidade e Gestão que ainda havia vagas.
Sou estudante de Contabilidade e Gestão da universidade Kimpa Vita. E também sou técnico de acabamento de construção civil. A Contabilidade surgiu em minha vida de uma forma inesperada. Não estava em meus planos, mas no decorrer do tempo, criei vontade de aprender a Contabilidade, isto é, já no primeiro ano da universidade. Hoje, no 4º ano, a paixão tornou-se maior”, revelou Euclides aos microfones do Jornal Economia Rural “ER” que não está a fazer o curso de paixão por alguns constrangimentos na vida.
“Quando testei para a universidade, havia mais vagas para o curso de contabilidade, e, por ouvir conselhos de pessoas chegadas, optei em testar para o curso de contabilidade por influência de amigos e familiares. Quando termino o segundo ciclo, testei no curso de Direito no superior, mas infelizmente, não havia sido admitido. Mas no curso de Contabilidade as vagas não tinham sido totalmente preenchidas, então houve a necessidade de fazer uma segunda chamada do teste para o curso de Contabilidade. E, como eu não quis ficar sem estudar, então testei novamente em contabilidade e, felizmente, fui admitido.
Actualmente, tem uma equipa constituída composta por quatro elementos, sendo Euclides o líder do grupo e que passa algumas experiencias naquilo que os outros não têm domínio. “Chegou uma certa altura, queria me sentir livre e queria explorar mais as minhas capacidades nessa área. Senti a necessidade de me tornar independente nessa área foi que decidi começar a trabalhar sozinho, isto é, em 2021.”
As dificuldades que enfrenta nesta área, conta Euclides, é ganhar espaço no mercado, uma vez que é novo, “as pessoas não conhecem os seus trabalhos e fica difícil eles solicitarem os seus serviços. Estou superando isso apostando mais no marketing e graças a isso as pessoas já estão a conhecer quem sou e o que faço.”
Quando começou com esse trabalho, os pais tiveram uma boa reacção, porque teve a iniciativa de querer ganhar na vida e de uma forma honesta. A maior dificuldade foi a de enquadrar-se na área, porque era algo novo para o jovem. “Coragem que dará tudo certo”, foram as palavras da mãe.
“Momento ruim, é que não é nada fácil, não estava acostumado. Nalgumas vezes exigia bastante esforço físico e ficávamos totalmente cansados. E também havia momentos que a gente pode fazer um trabalho numa casa que ainda não reside ninguém e ficávamos muitas vezes sem alimentação. Era totalmente difícil. Mas os momentos bons, como sempre aquela diversão, aquela alegria e também no momento de pagamento,” contou.
Para quem quer entrar nessa área, o mestre aconselha é não ter vergonha. “Muita gente tem vergonha de trabalhar com isso, porque pensa que não é um serviço digno. Tem de ter vontade de aprender, todos os dias. Aqui a aprendizagem não é limitada, é ilimitada. E cada dia que passa, a gente tem de aprender alguma coisa nova. Persistência também”, clarificou.
A arte de acabamento, de acordo com o técnico, é como sendo a finalização da construção civil. “A casa até pode ser bem construída com os alicerces seguros, com os blocos direitos, mas sem a arte de acabamento, a casa não fica concluída. Sem a arte de acabamento, é difícil notar a beleza na casa. Por mais que ela estiver bem construída, segura, mas sem a arte de acabamento é difícil notar o semblante na casa. Então, a arte de acabamento é dar o semblante na construção civil. É a parte do semblante. É a parte que dá a luz à construção civil”, descreveu.