A economia de uma nação não se ergue apenas com investimentos externos ou projeções optimistas de crescimento. Ela constrói-se a partir do que está mais próximo e essencial: a terra, as pessoas, a história e as decisões políticas que moldam o seu percurso. No caso de Angola, compreender as raízes da sua economia é crucial para projetar um futuro sustentável e inclusivo.
“Angola, quanto tempo falta para amanhã?” — a pergunta, título de uma obra do deputado e professor Paulo de Carvalho, ressoa com força nos dias de hoje. Meio século após a independência, o país ainda busca encontrar esse “amanhã” prometido, muitas vezes adiado por modelos económicos que, embora lucrativos a curto prazo, se mostraram frágeis a longo prazo.
Desde os primeiros anos pós-Independência, Angola ancorou-se num modelo económico extrativista, centrado no petróleo e nos diamantes. Esses recursos naturais garantiram receitas abundantes e financiaram a reconstrução nacional após a guerra civil. No entanto, tal abundância veio com um custo: a criação de uma economia altamente dependente, vulnerável às flutuações do mercado internacional e marcada por desequilíbrios estruturais internos.
A crise financeira global de 2009 e a prolongada recessão entre 2014 e 2020 foram um ponto de inflexão. A queda abrupta dos preços do petróleo expôs as fragilidades do modelo vigente: a moeda desvalorizou-se, a inflação disparou, escassearam bens essenciais, e a dívida pública aumentou exponencialmente. Ficou claro que Angola precisava escavar mais fundo até às verdadeiras raízes do desenvolvimento.
Essas raízes estão na agricultura, no empreendedorismo local, na educação de qualidade, no turismo sustentável e numa governação transparente. Sectores muitas vezes esquecidos, mas que têm o poder de gerar empregos, garantir soberania alimentar e estimular a inovação. O país possui cerca de 35 milhões de hectares de terras aráveis, dos quais apenas uma pequena fracção é cultivada. Com um clima favorável e uma população jovem e dinâmica, o potencial agrícola angolano é inegável — mas permanece, em grande parte, inexplorado.
Nos últimos anos, sob a liderança do Presidente João Lourenço, o discurso da diversificação económica ganhou força. Reformas estruturais foram lançadas, incluindo iniciativas para atrair investimento estrangeiro para os sectores não petrolíferos. No entanto, os resultados ainda são limitados e os obstáculos persistem: corrupção endémica, deficiência nas infraestruturas, burocracia pesada e escassez de crédito acessível para pequenos produtores e empresários.
Como bem apontou um economista local, “não há diversificação possível sem uma verdadeira reforma do pensamento económico”. É preciso abandonar a visão de crescimento baseado apenas em megaprojectos ou exportações de matéria-prima e investir no que pode gerar valor de forma duradoura, desde as comunidades rurais até aos centros urbanos.
Revitalizar a economia angolana é mais do que um imperativo técnico é um projecto nacional. Exige uma liderança comprometida, políticas públicas eficazes, combate real à corrupção que ainda actua como um cancro no tecido económico e o fortalecimento da juventude enquanto motor de inovação e transformação.
Angola tem tudo para se tornar uma potência económica regional: recursos naturais, capital humano, posição geoestratégica. Mas para isso, é preciso voltar à terra, às pessoas e às ideias fundadoras do desenvolvimento sustentável. O futuro não será construído apenas com petróleo e diamantes, mas com ideias, ética e trabalho.
Porque só quando cuidamos bem das raízes, a árvore da economia pode crescer de forma sólida, frutífera e duradoura.
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